Devo dizer que estou verdadeiramente "overwhelmed" com esta manifestação tão agradável e inesperada, tão inesperada, devo dizê-lo, como é esta reunião, realizada aqui em Lisboa para tratar de problemas que têm a ver com os refugiados.

Durante anos, e o Senhor Secretário de Estado teve tantas vezes a amabilidade de me "aturar", tive oportunidade de travar o que pensava ser um combate quase sem esperança, pela solução de um conjunto de problemas que em Portugal não tinha verdadeiramente tradição. O que me surpreende, além desta inesperada e seguramente imerecida homenagem que agradeço muito rendidamente, o que me surpreende é ver tantas pessoas nesta sala, o que me leva a concluir que começa realmente a haver em Portugal o que podemos chamar uma cultura do refugiado.

Parece-me ser este um facto muito importante e quando essa emergência de uma cultura dos refugiados, se me permitem dizer assim, é acompanhada ao nível institucional, pela existência e actividade de uma organização internacional que se ocupa especialmente desses problemas e tem a dirigi-la uma pessoa com a qualidade, a competência e o entusiasmo da Doutora Drüke, que me apraz pôr em destaque, penso que é motivo para nos considerarmos gratificados e felizes; e no meu caso, duplamente gratificado e duplamente feliz pelo que me é dado testemunhar, na minha qualidade de ex-representante honorário de Sua Excelência a Alta Comissária para os Refugiados, não só pela constatada emergência desse sentimento "novo" de preocupação e inquietação pela situação dos refugiados no nosso País, mas também por ver que a direcção da delegação do Alto Comissariado se encontra entregue em mãos firmes, o que é decerto motivo de tranquilidade e certeza de que os problemas de que tratamos hoje serão acompanhados e defendidos com persistência e coragem.

1 Ex-Representante Honorário do ACNUR em Portugal, Ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros e Adminstrador da Fundação Calouste Gulbenkian.

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